O futuro, a tecnologia e o inconcebível

O que mais me cativa é olhar para a história e perceber, por meio dela, como nossa visão sobre o futuro é terrivelmente limitada. Chega a ser fascinante pensar que, há trinta anos, sequer fazíamos ideia do que viria a surgir, como o que chamamos hoje de internet. Não só era algo imprevisível, como literalmente inacreditável: se voltássemos no tempo e contássemos às pessoas que seria possível a basicamente qualquer um comunicar-se com alguém do outro lado do mundo instantaneamente, não apenas por texto, mas por voz e imagem, isto seria com toda certeza mais fantasioso que falar sobre carros voadores. Apesar de estes últimos estarem muito além da capacidade técnica da época (como continua estando até hoje, eu diria), é algo absolutamente concebível, pois não quebra paradigmas; a internet, por outro lado, supera um obstáculo até então incontornável: a distância. Foi só achando outras formas de transmitir uma mensagem — que não pelo envio convencional, adstrito às rigorosas limitações da física mecânica tradicional — que criamos um novo paradigma; e se enxergamos hoje a internet como algo banal, tão maior se mostra o poder desta revolução tecnológica.
Embora o desenrolar destas novas tecnologias seja monumental, o que é ilustrado quase ironicamente por infantos que sabem lidar com tablets mas não com revistas, o ponto nevrálgico do que quero aqui passar não é este, e sim o próprio fato de que todos os limites que nossa imaginação encontra hoje estão sujeitos a superações que fogem ao nosso paradigma atual. Talvez esta constatação seja um tanto óbvia a quem já está familiarizado com o debate científico, mas insisto em sua importância: é fundamental que jamais descartemos possibilidades de inovações tecnológicas só por parecerem ousadas ou inviáveis demais.
Dentre as previsões que ouso fazer, estão as que lidam diretamente com a exploração e a materialização de nossas subjetividades. Gosto de pensar que, daqui a não muito tempo, será praticamente impensável que não éramos antes capazes de projetar nossa própria imaginação na realidade. Um passo nesta direção já foi dado: os óculos de realidade virtual, que hoje ainda engatinham, com um tímido espaço no mercado, decerto são uma poderosa promessa para o entretenimento futurista: em pouco tempo, dificilmente haverá jogos e filmes que não sejam totalmente tridimensionais. Arrisco que, aos olhos do amanhã, um filme 2D será equivalente ao que os filmes em preto e branco nos é hoje. Este tipo de atividade imaginativa é quase um exercício antropológico de estranhamento intertemporal.
O futuro nos reserva, sim, o sobre-humano. Muitas das nossas limitações mais intransponíveis serão contornadas por paradigmas que, por enquanto, fogem à nossa compreensão. Só nos resta sorrir, imaginar e, por último, esperar.