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sexta-feira, 7 de outubro de 2016

A escrita no limiar da arrogância


    Talvez não pareça, mas sempre escrevo com muita cautela; com tanta cautela, inclusive, que muitas vezes acabo não escrevendo, ou o faço com uma certa covardia que me limita consideravelmente. Comecei este texto com "talvez não pareça" pois sou realmente incapaz de dizer se minha recorrente insegurança transparece nas linhas de meus escritos ou se consigo fingir bem. Aprendi que simular confiança pode ser de grande ajuda, sobretudo para quem engana a si mesmo.
    Por mais grato que eu seja à minha humildade, há momentos em que ela me serve mais como peso que como asas. Existe um gradiente deveras traiçoeiro entre humildade e confiança, sendo muito fácil ser atraído para o extremo de cada um dos polos: a insegurança e a arrogância, respectivamente. E com frequência tenho descoberto que a insegurança é extremamente magnética; requer um grande esforço para nos mantermos a uma distância segura, na qual ela não seja capaz de nos consumir. É em nome deste esforço que tentarei não me preocupar com os leitores que eventualmente apontem o dedo na minha cara e digam: "Quem é você para falar sobre filosofia, psicologia ou mesmo sobre qualquer outro assunto complexo?" — porque, embora eu lhes dê razão em grande parte, sei que este tipo de pensamento nos amordaça. Sei que, por maiores que sejam seus benefícios, a humildade facilmente se transforma na quimera da insegurança e nos devora por um tempo quase perpétuo, pois dificilmente chegará o dia em que, sendo verdadeiramente humildes, nos sentiremos plenamente confortáveis para discorrer sobre o assunto que for.
    Desta forma, peço desculpas antecipadas se em algum momento eu soar insolente. O ideal é que nos mantenhamos no equilíbrio entre a humildade e a confiança, mas até agora não descobri como fazê-lo, a não ser separando-as para cada momento da comunicação: ter humildade ao ouvir, ter confiança ao dizer. Se eventualmente recairmos em algum dos polos, paciência. Tenho concluído que a arrogância, mesmo quando artificial, é por vezes um preço baixo a se pagar pela coragem que a escrita exige; e, de todo modo, preferível à estagnação e ao silêncio.