A escrita no limiar da arrogância

Por mais grato que eu seja à minha humildade, há momentos em que ela me serve mais como peso que como asas. Existe um gradiente deveras traiçoeiro entre humildade e confiança, sendo muito fácil ser atraído para o extremo de cada um dos polos: a insegurança e a arrogância, respectivamente. E com frequência tenho descoberto que a insegurança é extremamente magnética; requer um grande esforço para nos mantermos a uma distância segura, na qual ela não seja capaz de nos consumir. É em nome deste esforço que tentarei não me preocupar com os leitores que eventualmente apontem o dedo na minha cara e digam: "Quem é você para falar sobre filosofia, psicologia ou mesmo sobre qualquer outro assunto complexo?" — porque, embora eu lhes dê razão em grande parte, sei que este tipo de pensamento nos amordaça. Sei que, por maiores que sejam seus benefícios, a humildade facilmente se transforma na quimera da insegurança e nos devora por um tempo quase perpétuo, pois dificilmente chegará o dia em que, sendo verdadeiramente humildes, nos sentiremos plenamente confortáveis para discorrer sobre o assunto que for.
Desta forma, peço desculpas antecipadas se em algum momento eu soar insolente. O ideal é que nos mantenhamos no equilíbrio entre a humildade e a confiança, mas até agora não descobri como fazê-lo, a não ser separando-as para cada momento da comunicação: ter humildade ao ouvir, ter confiança ao dizer. Se eventualmente recairmos em algum dos polos, paciência. Tenho concluído que a arrogância, mesmo quando artificial, é por vezes um preço baixo a se pagar pela coragem que a escrita exige; e, de todo modo, preferível à estagnação e ao silêncio.
