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terça-feira, 27 de setembro de 2016

Mudança


    Se tem uma coisa que aprendi no último ano é que somos feitos de mudanças — mudanças constantes que nos redefinem a todo instante. Lutar contra elas seria fechar os olhos à nossa própria existência; seria permanecer presos a uma ideia artificial de alguém que já fomos. Nunca somos: estamos. Não se trata de negar o passado, mas de ser grato a ele por ter nos trazido até aqui, e seguir em frente.
   Pretendo falar mais sobre isso eventualmente; só não o faço aqui agora pois estou concentrando a maior parte de meus esforços em transpassar esta ideia da identidade fluida como um dos pontos centrais de Cogumelo de Adão, meu segundo livro ainda em processo de escrita, onde tenho muito mais espaço, tempo e profundidade para tratar do assunto. Trago apenas um fragmento deste conceito aqui pois tomo ele como indispensável para explicar meus motivos para ter criado um novo blog.
    Eis que, depois de quase seis anos escrevendo no Meu mundo, minhas palavras, percebi que não me sentia mais confortável em escrever em meu próprio blog. Cheguei, inclusive, a comentar isso num de meus últimos textos, caindo na ilusão de que eu conseguiria romper essas amarras. A causa desse desconforto era bastante intuitiva, de forma que raros serão os leitores a não se identificarem com isso em algum momento da vida: eu simplesmente não sentia que aqueles textos tivessem sido escritos por mim — ou pelo menos não pelo Régis atual, que já não tem mais os mesmos interesses insípidos daquele que escreveu as trinta dissertações. E não se trata nem mesmo de aquelas opiniões todas não me representarem mais em seu conteúdo, e sim em sua forma: com os anos, acabei cristalizando um padrão de textos sérios, de sobriedade nauseante, que de alguma maneira me engessava, impedindo que eu começasse algo novo. Até poderia tentar, como efetivamente o fiz, mas os moldes ainda eram os mesmos.
    Não acho, de modo algum, que os eventuais leitores deste texto tenham qualquer razão para estarem genuinamente interessados nesta crise de identidade textual que me motivou a criar um novo blog, mas certamente acredito que disso seja possível extrair vários assuntos relevantes que sejam de interesse geral. Esta minha decisão revela sobretudo a relação incontestável que a estética mantém com a escrita e, por que não, com o conjunto geral das formas de expressão humanas; e, mais, evidencia a necessidade quase urgente de inovar, de não mais viver nas sombras do passado. Por vezes, é preciso que sejamos honestos conosco mesmos, ainda que isso signifique deixar de lado quem já fomos para ser quem verdadeiramente somos hoje — e só então seremos capazes de encarar o futuro com a sinceridade que ele exige.